Fogo do Coração
Das entranhas ardidas
Num fogo incontrolável
Surjo Eu
Um Eu que não é diferente de tudo
Tudo e todos
O que farias se um dia o fogo viesse, sem qualquer aviso, e levasse tudo?
O que farias se o fogo queimasse memórias físicas, vidas animais, plantas, florestas inteiras?
O que farias se um dia o fogo levasse a tua casa, os teus pertences?
O que farias se um dia o fogo levasse tudo o que vias?
Pois o fogo veio e levou tudo.
Será?
Levou tudo material e até vidas! Levou paisagens, solos, árvores centenárias, javalis, gatos, cães, aves, arbustos e florestas completas.
O inferno abatido no exterior era o inferno que consumia o interior.
O coração deixou de bater e o amor e a vida deixaram de existir por muito tempo.
Da solidariedade e do amor veio o renascimento.
Do preto soturno, da morte inevitável e do fogo transformador, veio a plenitude e a esperança. A fé na recuperação, a paz de vidas vividas.
Agora a vida é essencial.
O sentir de tudo na plenitude.
O estar ao serviço de algo maior.
A transformação de coração de fogo num fogo criativo, numa exposição de paixão.
Daquilo que é inútil para muitos, na transformação tradicional, carregando algumas tradições portuguesas, surge o trio do fogo do coração.
Para que (re)conheças a vida do interior de Portugal.
Para que o centro do País vá para todo o lado.
Para que estas plantas, estes animais e estas aldeias toquem o teu coração.
Para que sintas a faísca no teu coração e o expresses na paixão plena do teu ser.
Em gratidão a esta terra.
Em gratidão a este país.
Em gratidão a estas pedras.
Em profunda gratidão com estes animais e com estas plantas.
Para que as gentes destas aldeias sejam tocadas pelo vosso amor e carinho.
Que esta serra seja sempre lembrada e apreciada, pois aqui, bate um coração forte, um coração que renasceu de um fogo transformador e que arrebate qualquer um@.
Fotografias por Raquel Perdigão Williams, tiradas em 2017 na Serra do Açor, Sardal
Texto, voz e adufe por Raquel Perdigão Williams
Nas fotos: Mizé Jacinto