Avó Ilda

11-03-2022

11 de Março

De sonhos sonhados e corpo marcado, o sinal veio.

O sinal da tua presença.

Joelhos feridos, ensanguentados.

Pele marcada.

Demora na cura.

Gratidão por estares presente e por te mostrares.


Sem face por vezes e sempre debilitada.

Porque essa é a imagem final.

Mas de final não se faz uma vida.

Porque a vida foi longa.

A vida terrena num corpo de Ilda que durou 106 anos marcou-me sempre e para sempre.

A tua vida aqui marcou-me.

A tua presença marca-me.

A tua vida é parte da minha vida.

Tenho-te saudades.

Mas sei que tu ainda estás aqui e que nunca desapareceste.

Uma forma nova que eu desconheço por vezes, mas que sei que és tu.


Cheia de história.

Cheia de histórias.

Cheia de amor.

Cheia de emoção.

De coração na boca.

De arte nas mãos.

De tradições que nunca morrem.

De cantorias infinitas e cheias de vigor.

De rezas em comum.

Com Cristo como mote, as orações transformam-se em ritual diário.

Meia hora de nós duas com Deus, com Fátima e Jesus.

Seres místicos, metáforas da nossa essência.

Perfeita harmonia de feminino e masculino, sagrado e profano.

De avental vestido enumerando com as mãos as receitas culinárias, enchendo a cozinha de cheiros e sabores.

Pois essa é grande parte das nossas vidas em conjunto: um costurar de colheres de pau tradicionais com cantorias misteriosas que puxam o mais alegre dos seres em cada uma das pessoas que te conhecia.


Que estejas onde estiveres a ser quem és e que me continues a guiar da forma que o fazes.

Amo-te muito Vó Ilda.

Amo-te sempre.


11 de Março de 1911, o dia em que a minha Ilda nasceu neste Mundo.

A minha avó Ilda faz parte do meu livro “Verdes à Mesa”, juntamente com outras ancestrais.