Dolméns - Orca e Víbora

13-08-2023

Hoje foi dia de viajarmos rumo a Carregal do Sal. A poucos quilómetros de distância daqui de casa, no entanto, algumas mulheres viajaram do Porto e de Santarém para estarem connosco.

Fomos 5 mulheres no total.

Com diferentes naturalidades e diferentes expressões da história Luzitana.

Comemos aqui mesmo, antes de partirmos. Uma refeição muito simples e fresca por o dia adivinhava-se muito quente.

De saias vestidas e de instrumentos de poder nacionais, lá nos metemos ao caminho.

Por sermos só 5, felizmente coubemos em apenas um carro o que foi maravilhoso, pois a viagem começou de imediato.

Ao explicar o tema desta viagem, a conversa de imediato fluiu.

O mais engraçado, e eu diria mágico, é que ao colocarmos no GPS a morada do local, por alguma razão, o GPS levou-nos por outros sítios e chegamos a outro destino que parecia uma estrada sem saída. Por esse engano, acabamos por passar por uma localidade perto de Tábua chamada Baubau (Deusa Baubau ou Baubo, sentada nas costas de um javali, de pernas abertas apontadas para a sua vulva exposta. Uma imagem que relembra a sacralidade da vulva, um portal orgásmico da vida e da morte. in "Luzitana"), uma aldeia chamada Lapa do Lobo, a relembrar-nos as nossas lobas internas e por uma referência a Valinhos, a mostrar-nos o manto de Maria e o quanto estávamos protegidas nesta viagem/jornada.

Achei importante irmos a um local de morte para deixar para trás o que já não serve mais. Neste caso, e em específico, o objectivo era, em ritual, consciencializar em cada uma de nós quais os limites que impomos a nós próprias em termos sexuais e corporais. Com que limitações nos deixamos identificar quando nos relacionamos com o nosso corpo? Como vivemos a sexualidade de uma forma não saudável? O que é ser mulher e estar no corpo?

O primeiro local que visitamos foi o Dólmen da Orca.

Entramos, ritualizamos e saímos.

Entramos com coisas velhas, tomamos consciência, individualmente e com o apoio de todas as mulheres, e largamos. Queimamos o que não nos serve mais como mulheres Luzitanas em termos corporais e sexuais. Deixamos lá as nossas cinzas, no local de morte e enterro. 

Saímos novas, mais leves e prontas para o segundo local.

Visitamos agora a Orquinha da Víbora. Tão remexida e incompleta, tão violada.

Aqui, o convite foi, agora leves e novas em termos corporais e sexuais, a deixar vir à tona as nossas expressões naturais. Como se movia o nosso corpo? Como se expressava a nossa voz?

Tanto foi visto e vivido.

Tanto foi transformado.

Tanto foi sentido.

Tanto fomos individuais e juntas.

Que mais viagens nos transformem e nos permitam ser a Luzitana que somos. 

Testemunho da Lúcia:

DÓLMEN DA ORCA

Chegamos

Viagem de tanto sentir

Chego e de cócoras sou chamada

A descarregar meu sangue e não só

Que descarga

A purificação já tomou espaço

Esta terra já recebeu das minhas entranhas

Que alívio eu sinto

Agora estou pronta para entrar

UAU eu me lembro de pensar

Ao ver que tamanho Dolmen

Nunca tinha visto um tão grande e imponente

(Pelo menos nesta vida)

Que presença

Só quero entrar e estar lá dentro

Peço permissão

Entramos uma a uma

Sentamos nos em círculo

Construímos o nosso altar

E uma nova viagem começa

Sinto me protegida por estas grandes pedras

Sou convidada a transformar e rever novas ideias

A activar a minha criatividade

E a expandir horizonte

Eu sou capaz a Tecelã me diz!

Estou pronta!

Senhora da Azenha é se ouvida

E agora é hora deixar morrer

Cada uma escreve

Cada uma coloca no típico pote português

Ao pote são deitadas as chamas

Juntamente com as poderosas ervas que a Raqeul colhe e secou

Deixamos,

Morremos para algo,

Vivemos e sentimos

Limpamos uma a uma as nossas vulvas

Com o fumo purificador da Sálvia e do Absinto

Perna aberta,

Vulvas descobertas

Nos limpamos e amamos

Lindo sentir,

Lindo ser limpa,

Lindo ver as vulvas das minhas irmãs a serem limpas

Registo que marcam

Histórias são ouvidas

Partilhas feitas

Deusas reconhecidas

Imagens nas pedras se revelam

Yonis á nossa volta

É hora de atravessar o canal

Intimida e chama ao mesmo tempo

Que canal é este

O que ele conta?

O que ele revela?

Estarei pronta?

Vejo as minhas irmãs

E chega a minha vez

A rosa vermelha tem que ir comigo

Aí vamos

As pedras pedem para ser tocadas e sentidas

De cócoras fico

Entrego a rosa

Coloco as mão nas pedras

E a voz surge

Voz que purja primeiro

E depois voz que relembra os cantos do útero

O canto que sai do meu útero e da minha alma

Canto para aquele canal

Para as pedras

Para mim mesma

Para o meu canal

Hora de ir

De voltar ao círculo

Algo foi entregue

Não sei bem o que

Mas agradeço

Ritual termina

Obrigada por nós receberes

Por nós limpares

Por nós contares tuas histórias

Por nós protegeres

Obrigada

É hora de fechar e sair.

A tua volta caminho por fora

Te honro

Te vejo

Te aprecio

E te deixo deixando me ir

Seguindo em frente

Diferente e mais erguida

Aqui vou eu

Aqui vamos nós

ORQUINHA DA VIVORA

Chegamos no segundo destino

As expectativas estão altas

O sitio em si estava visivelmente não bonito

Remexido

Meio destruido

Desonrado

Foi difícil de ver

E ao mesmo o convite foi sentir o sitio

Não com os olhos mas com todos os sentidos

Primeiramente foi senti lo pela expressão musical

O convite era mesmo largar e ir com tudo

Senti o impacto de quando nos contemos na nossa expressao

E da responsabilidade que todas temos em simplesmente sermos

Continuei a dar me naquilo que me era possível

A voz emergiu e o bater no drum que carreguei

Foi simples

Bastante intimo e mais silencioso

Mas foi o que o naquele momento podia ser dado

Relaxei porque o resto que estava a sentir não era meu

Aceitei e amei-me

Dando valor e apreciando o que o meu corpo estava a dar naquele momento

Na sua simplicidade e presença

Nessa aceitação veio o proximo convite

Um convite bastante expressivo

Um convite corporal

Convidando a esticar,

Contorcer o corpo,

Sentir cada movimento

Ser a cada movimento

Ser a expressão que queria sair

Que libertador foi

Honrei o circulo que não era visto com os olhos

Mas que estava la

Honrei a representação do utero e do canal uterino

Através do movimento do meu proprio utero

Honrei a vivora com a ativação da serpente dentro de mim

Retornamos ao nosso circulo fisico

Era hora

Que bom foi partilharmos

Vermos o quanto estávamos ligadas

Mesmo cada uma estando a viver o seu próprio processo

Realizar o que cada uma intuiu à cerca uma das outras

Marcou me sentir a Ana e partilhar o que senti

(Que quase tomei como meu mas era dela)

E foi lindo partilhar dor de não a ter ouvido

Não ter sentido a voz dela e a expressão dela

Mas nada estava perdido

Simplesmente foi o convite para o agora

A oportunidade não foi perdida

Tudo estava a li pronto para recebe-la

"Queres manifesta-lo agora?"

Foi a pergunta para ela

A qual ela abraçou com unhas e dentes

Com todas as suas entranhas

Alma,

E Ser,

Que bom ouvi-la cantar e gritar

A pele arrepio-se continuamente

Foi a representação mais pura e verdadeira

Que podia ter sido manifestada

Grata a ti Ana

E

Grata a todas Nos

Grata aos convites infindáveis que nos eram propostos

O que acontece quando simplemente estamos juntas

É magico

É poderoso

É revelador

E tão necessário

Redescobrir sítios é (re)descobrir-nos

Estar em contacto com a historia é resgatar-nos

Para renascer precisamos de morrer

Para morrer precisamos de encarar tudo

E nesse tudo está a historia

De quem fomos

Do que sentimos

Da dor que carregamos

Deixar tudo isso é o resgate mais puro da Alma

Da Alma que esta aqui pronta

Para jorrar

Pronta para criar

Pronta para expressar

Se escolho andar

Se escolho ir

O convite é então devolver

Com a mais pura expressão do meu ser

Simplesmente sendo EU PRÓPRIA

Nada mais mas nada MENOS também

Sem duvida esta viagem marcou-me...

Marcou me até as entranhas!!

Testemunho da Joana:

Nós sendo reais, o amor é mais real. Tive uma experiência quando caminhava na Natureza, logo no dia a seguir; só tenho de ser autêntica e verdadeira, não é preciso mais nada e olho para o lado e vejo uma pele de cobra no caminho com cerca de 50 cm. O trabalho que fizemos e com tudo aquilo que vivemos juntas neste dia, percebi que a pele velha já tinha sido largada, especialmente depois de irmos à Orquinha da Víbora! Ofereci a pele de cobra a um sítio que faz parte do meu passado. E percebi que posso resgatar a minha essência em vez de me dar, entregar. Partilhar é diferente de me entregar. 

Fotos por Lúcia Moreira excepto as últimas 5 que foram tiradas por mim.


NOTAS:

Circuito pré-histórico ou megalítico de Fiais/Azenha

Dólmen da Orca

O Dólmen da Orca, também chamado de Orca de Fiais da Telha ou Lapa da Orca, é a grande jóia da coroa do circuito e foi considerado monumento nacional em 1974. É um dos maiores dólmens em Portugal, assim como um dos mais bem conservados. Mantém todos os nove esteios da câmara intactos, com apenas uma fractura num dos mesmos, assim como a laje de cobertura, gerando assim uma imponente câmara sepulcral de forma poligonal com uma altura de três metros. Em igual bom estado de conservação encontra-se o corredor ligado à câmara, o qual atinge os sete metros e meio e mantém quinze esteios assim como todas as respectivas lajes de cobertura, permitindo assim ver o dólmen praticamente por inteiro, conservado até aos dias de hoje. Adicionalmente, o Dólmen da Orca preserva ainda parcialmente a sua mamoa, que embora já não envolva uma parte da câmara, que é visível acima da mamoa, cobre praticamente o corredor todo, e apresenta um impressionante diâmetro de 20 metros. Em termos cronológicos, o Dólmen da Orca situa-se provavelmente numa origem entre os finais do IV milénio a. C. e inícios do III milénio a. C., sendo mais recente que outros grandes dólmens no sul, possivelmente um dos factores que leva a que esteja tão bem conservado.


Orquinha da Víbora

Outros indícios pré-históricos No circuito pré-histórico existe ainda um conjunto de gravuras rupestres gravadas em dois afloramentos graníticos maciços, os quais contém conjuntos de símbolos essencialmente cruciformes, sendo que alguns dos mesmos em associação poderão formar representações antropomórficas, embora seja algo ambíguo. Mais certa será porém a significância mágico-religiosa destes símbolos, de cuja decifração poderemos apenas especular.


Lenda do Penedo da Víbora

No circuito pré-histórico encontra-se também um penedo, onde está localizado o marco geodésico, no qual em tempos terá também existido uma outra anta, hoje em dia desaparecida, e que é chamado de Penedo da Víbora. Talvez pela atmosfera ancestral, misteriosa e mágica que um local povoado por monumentos megalíticos emana, e pelo efeito que tal atmosfera poderá ter tido nas populações rurais que foram vivendo em redor do circuito, gerou-se na tradição popular uma lenda associada ao dito penedo. Esta lenda conta que em tempos terá havido em Oliveira do Conde (povoação próxima do circuito pré-histórico) um castelo que albergava uma princesa moura e um príncipe cristão, que ali se tinham refugiado, vindos não se sabe de onde. O casal era muito reservado e escondia-se da população, e só queriam saber de si mesmos. Um dia, no entanto, passou pelo castelo uma velhinha muito pobre, e pediu alojamento ao casal. A este pedido o príncipe e a princesa responderam com escárnio orgulhoso, dizendo à velhinha que o castelo era só para eles e que não a queriam ali. Só que a velhinha era na realidade uma fada disfarçada, que perante tal falta de solidariedade e egoísmo resolveu castigar o príncipe e a princesa, transformando o príncipe num rouxinol e a princesa numa víbora, e o castelo num penedo. Amaldiçoou ainda o príncipe a cantar de dia e de noite, fizesse chuva ou fizesse sol, em cima do arvoredo. A víbora, por sua vez, passou a atar a sua cauda ao dito penedo, e ia beber ao Mondego, para ouvir o rouxinol que era o seu amor a cantar em cima do arvoredo. Ao fazê-lo, a víbora costumava dar de caras com tecedeiras, as quais também iam para o Mondego, e estas costumavam atirar novelos à víbora e fugir de seguida com medo. A víbora costumava apanhar os novelos, e colocá-los num açafate que tinha no penedo. Só que um dia as tecedeiras atiraram-lhe tantos novelos que a víbora ficou sem espaço no açafate, e começou a devorá-los, mas encheu demasiado o ventre e acabou por explodir e morrer, ficando apenas o penedo, o qual se chama portanto Penedo da Víbora. Uma lenda curiosa que transmite uma certa magia a um local que por si só já emana um certo misticismo ancestral e o efeito de nos transportar momentaneamente ao passado. 


Textos retirados de:

https://www.portugalnummapa.com/circuito-pre-historico-de-fiaisazenha/


Dólmen da Orca: lat=40.443850 ; lon=-7.93819

Orquinha da Víbora: lat=40.437400 ; lon=-7.9426

Penedo da Víbora: lat=40.433733 ; lon=-7.9465830


Orca

símbolo de poder, sabedoria e proteção. Uma das lendas mais populares sobre a orca é a de que esses animais são guardiões dos mares e dos rios. Segundo essa crença, quem tem uma orca como espírito animal está protegido contra as energias negativas e tem uma forte conexão com o mundo espiritual. Outra crença relacionada à orca é a de que esses animais são capazes de curar doenças e equilibrar as energias do corpo. Diz-se que a presença da baleia assassina em um ambiente é capaz de purificar o ar e afastar os maus espíritos. O simbolismo da orca na espiritualidade e no misticismo Além de ser um animal poderoso e misterioso, a orca também tem um forte simbolismo na espiritualidade e no misticismo. Esses animais são frequentemente associados à coragem, à determinação e à força. Na cultura esotérica, a orca é vista como um símbolo de liderança e de trabalho em equipe. Isso se deve ao fato de que esses animais caçam em grupo, e cada membro da equipe tem um papel importante a desempenhar para garantir o sucesso da caçada. Para quem busca inspiração e motivação, a orca pode ser um símbolo poderoso. A imagem desse animal saltando fora da água com elegância e força pode ser um lembrete constante de que somos capazes de superar qualquer obstáculo se tivermos determinação e coragem.


Retirado de: https://guiaesoterico.com/orca-no-espirito-santo/


Fiais da Telha

Fiais da Telha é uma aldeia da freguesia de Oliveira do Conde, no concelho de Carregal do Sal.

Situada em plena Plataforma do Mondego, implantada em zona plana, num amplo maciço antigo do Planalto Beirão, e enquadrada pelos rio Dão, a Norte, e pelo rio Mondego, a Sul, foi sendo ocupada pelo Homem desde tempos pré-históricos, evidenciando inúmeros vestígios arqueológicos daquela época e de ocupação contínua do seu espaço, desde o Período Romano e Época Medieval.

É, assim, pela sua génese geomorfológica e orográfica, um espaço sem grandes elevações, salientando-se as suas vertentes suaves para os vales daqueles importantes recursos fluviais, nas quais predominam as densas manchas graníticas características desta região.

Característica, que veio a proporcionar excelentes condições naturais de fixação humana, já desde o período Pré-histórico, sendo, no presente, um facto comprovado pelo elevado e diversificado número de testemunhos arqueológicos inventariados na zona, atribuíveis aos Períodos Neolítico, Calcolítico e Idade do Bronze, passando pelos vestígios de ocupação romana, até à Idade Média.

Insere-se no Concelho de Carregal do Sal numa zona da Península Ibérica, berço da antiga Lusitânia, sendo muitos os testemunhos históricos da passagem dos primitivos invasores.

Dos antigos povos ficaram antas. Próximo ao centro da aldeia, encontra-se o Dólmen da Orca ou Lapa da Orca, também conhecido por 'Orca de Fiais da Telha', implantado no Planalto do Ameal, tendo a sul o Rio Mondego e a Ribeira de Azenha a Noroeste, coordenadas UTM 29 TNE 902778, Carta Militar de Portugal Nº 211 de Ervedal da Beira de 1993, a uma altitude de 313 metros.