Gratidão pela vida

06-12-2018

Prestes a chegar ao tempo mais frio do ano, com a entrada de Yule quase a bater à porta, a contemplação da morte torna-se mais presente para mim.  Talvez porque, de alguma forma, ela é mais evidente quando olhamos a Natureza. As folhas castanhas caem no chão e enchem o solo de cores maravilhosas. Misturadas com a humidade das noites gélidas, começam a decompor-se e a transformarem-se num belo e tão cheiroso solo.

Este ano, numa mistura de árvores queimadas e solo nu, há pequenas ilhas paradisíacas aqui e acolá de um verde grandioso, cheio de vida e morte ao mesmo tempo. Cheio de vida que se quer transformar. De seres que vemos e outros que nem por isso.

Sim, este é um tempo mágico de transformação. De estar com este frio e deixá-lo transformar o que tem de ser transformado. De deixar a noite mostrar a sombra. De olhar a sombra, (re)conhecê-la a aceitá-la. De ver a morte como parte deste ciclo que aceitamos e escolhemos materializar; desde que nascemos até quando deixarmos estes corpos.

E estes ciclos de vida e morte, diários, semanais, mensais, anuais e por aí fora, na verdade não têm tempo definido e ao mesmo tempo parecem ser sazonais! E a vida é mesmo assim, numa constante aparente contradição, mas que parece tão lógica e normal.

Um ciclo de vida e morte que vemos fora e que se atentarmos bem, vemos dentro também.

Observa o teu corpo e repara onde a transformação é constante. Onde algo parte para deixar espaço para o novo. Ou será que não há razão lógica alguma, mas algo que acontece sem pensar que vai acontecer? Certamente, e logicamente, o corpo não pensa, vou sangrar agora para deixar ir o velho, pois assim o novo pode acontecer. Tudo acontece em passos mágicos, que quando observados, sentidos e aceites revelam uma pacífica, misteriosa, maravilhosa e excitante ciclicidade.

Estas são algumas práticas que eu adoro fazer durante esta altura do ano:

- No altar em casa, ou num dos lugares sagrados do terreno, construo uma mini casa para os Espíritos da Natureza. Este ano, vou fazer um em particular para os pequenos ratos que estão em grande abundância nesta área;

- Medito diariamente;

- Caminho descalça no solo rico em magia e abundante decomposição;

- Danço;

- Descanso com mais horas de sono;

- Exercito o meu corpo diariamente de uma forma consciente (há dias em que nitidamente o meu corpo pede mais actividade e noutros em que o exercício físico é mais gentil);

- Hidrato o meu corpo com bebidas quentes (infusões de gengibre e uma pitada de pimenta caiena ou de bolota) ou caldos vegetais quentes (com algas, cogumelos e miso);

- Hidrato a minha pele com bons óleos;

- Escrevo.

Nestas práticas, entrego-me sem expectativas áquilo que podemos chamar de ciclos de vida e de morte, dentro e fora do meu corpo. Observando de forma profunda e contemplando aquilo que já não faz sentido e aquilo que se quer materializar. Aquilo que quer partir, morrer e aquilo que quer vir, nascer.

Numa Lua Nova quase aqui, e tendo em conta estas práticas de entrega em Yule, sugiro que te sentes confortavelmente, de costas direitas e que atentes à tua respiração. Observa o ar a entrar pelo teu nariz e percorrer, em profundidade e em todos os pormenores, o teu interior; oxigenando as tuas células, os teus orgãos. O ar sai levando aquilo que o corpo transformou que não é mais benéfico. Faz esta respiração consciente por uns bons 15 minutos, tendo a tua atenção sido focada nestes ciclos respiratórios. Medita agora por cerca de 45 minutos, em silêncio. Após esta meditação, pega no teu caderno e contempla:

- Vejo e sinto os meus ciclos internos? Como são? Quando acontecem?

- De que forma estes ciclos internos se relacionam com os ciclos da Natureza, da Lua, do Sol, do Solo, da Fauna, da Flora?

Perguntas simples, mas que são de profunda contemplação e que te podem ajudar a sentir e a observar o teu corpo.

Intui, entrega o teu corpo a esta sabedoria maior e mergulha num Yule vermelho e verde, numa Natureza de Carvalho, Pinheiro e Azevinho, de velas coloridas e luz, num altar cristalino, com presentes aos nossos amigos Celestiais e Naturais e entrega-te a esta celebração de vida!

Sê vida, em ti e com tudo e todos os que te rodeiam. Medita, ora, passeia na floresta, activa todos os teus sentidos.