Ouvir profundamente

24-09-2021

De escuta profunda, após noite ventosa e cheia de chuva.

Escuta profunda que vem na noite também.

Acordada e desperta, ouvi a voz.

A voz dela sabedoria ancestral e muito tocante e assertiva.

A voz que disse, vai e caminha.

Vai e vê. Vai e sente.

Assim o fiz.

Sabia que ia encontrar o Outono de putrefação. Sabia que ia dar de caras com os cogumelos.

No intuito de colher uvas apenas, encontrei muito mais!

Basta ouvir a voz.

A minha voz, a voz do Amor, da Natureza, do que é infinito.

A voz da Ilda que me move em dias outonais.

Guiei-me, passo a passo, de lama escorregadia até terreno seco.

Encontrei cogumelos comestíveis onde menos esperava e deliciei-me com figos e uvas.

Colhi-os em gratidão.

Em conexão profunda com a abundância de um tempo de ir para dentro.

De recolhimento em integração daquilo que foi.

Em deixar morrer o que já não tem vida na verdade.

Em sentir a putrefação.

Um tempo infinito e que começa agora, nas pegadas dos javalis e javalinas. E nas asas do Açor que olha de cima para aquilo que é terreno e mundano.

Abençoado tempo de Outono.

Abençoada a prosperidade dos dias curtos.

Abençoada esta existência.

Porque esta é a transição final, este o fim do ano.

Que venha o novo e que se olhe e escute o som dos tambores adufeiros, das Senhoras das Terras e das Águas e que tudo encontre paz.